Leialti minimalista.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sorvete... dessa vez sem chá.

O gato pisava nas telhas e miava, era hora de acordar. A janela e a porta do quarto ficavam fechadas e por anos o leite do gato foi servido logo que o sol nascia, era o horário de acordar para se arrumar para a faculdade, e, todos os dias, sem exceção, o leite do gato era servido nesse horário, havia um bilhete na porta com o desenho de um gato bebendo leite no canudinho, para que não se esquecessem do leite. Eventualmente eles se formaram e passaram a não precisar mais de acordar para ir à faculdade, mas o sol continuou nascendo todos os dias e o gato reclamou o seu leite, nos primeiros dias pulando na cama, então fecharam a porta. O gato passou a entrar pela janela, fecharam-na também. O gato passou a subir no telhado, fazia barulho suficiente para acordar os seus... amigos. Isso porque o gato pertencia apenas a si mesmo, chegara em um dia em que o sol nascera, como todos os outros, e nunca foi embora. Em troca do leite, oferecia sua presença.

E como em todos os outros os dias em que o sol nascera, ela acordou primeiro, mas não se levantou, porque segurava a sua mão. Entretanto, na noite anterior, ela não dormiu segurando a sua mão, diferente de todas as noites em que a lua subira, isso por um motivo simples: ela nem sequer dormiu com ele, no dia anterior, eles tiveram uma discussão feia, diferente de todos os dias em que o sol nascera e a lua subira.

- Bom dia, flor do dia. Hã, me desculpe por ontem.
- Bom... hã, eu preciso te contar uma coisa.
- Hum... passas ao rum ou morango? - aquelas eram as opções de café da manhã do dia, que, como em todos os dias em que o sol nascera, era sorvete.
- Hã... passas... é que...
- Hum?
- Eu...
- ... aqui, toma. - E entregou a ela a xícara. Uma bola e meia de sorvete. Se ela tomasse apenas uma, não seria suficiente, mas se tomasse duas o sabor final não seria tão bom quanto o restante. Uma e meia. E depois era a vez do gato receber o seu café (que era leite) da manhã.
- Eu...t...fraí...ntem - Seria, se a garota não tivesse acabado de roubar o turno do gato derramando o seu café (que era sorvete) da manhã e não estivesse chorando copiosamente e tremendo de uma maneira extremamente preocupante. O garoto teria pedido que ela repetisse, ela costumava pedir sempre, mas sabia que algumas coisas não deveriam ser repetidas.
- Olha só, se eu fosse muito cretino, poderia dizer que não adianta chorar sobre o sorvete derramado, mas, para a sorte de todos nós, eu não sou... Passas ao rum ou morango?
- ...Pára!É...sério.
- Eu também estou falando sério. Passas ao rum ou morango?
- Porquevocêtáfazendoissocomigo!?
- Porque é hora de tomar o café que é sorvete da manhã... o que você esperava que eu fizesse?
- ...
- Que eu te negasse o café que é sorvete da manhã só porque ontem você saiu e entregou o seu cor...
- PÁRA!
- ...para alguém que nem sabe que você prefere passas ao rum à morango...
- PÁRA! - E enfiou as unhas nos braços dele.
- ...só porque eu fui um babaca... iff (o garoto se esforçava nitidamente para não demonstrar que sentia dor)... eu não posso deixar de te servir o café que é sorvete da manhã só por causa disso, porque isso é transformar o efeito na causa.
- Hã? - E afrouxou os braços.
- Se eu nunca tivesse sido um babaca, se eu nunca tivesse te traído sendo um babaca, você não teria feito nada ontem. - E a garota chorava lágrimas para afogar todos na cozinha. E parecia querer ser engolida pelo chão. E desmoronou como se fosse o mundo ao som das sete trombetas do apocalipse. E se arrependeu como se estivesse errada. E estava. - Não posso... não posso transformar o efeito em causa.
E permaneceram os dois, afogados nas palavras que brotavam dos olhos e nas lágrimas que brotavam das bocas. Engolidos um pelo outro. E arrependidos como se não pudessem estar errados... nunca.
- Passas ao rum ou morango? Eu já disse o quanto acho o seu sorriso bonito na luz da manhã? - E desenhou com o sorvete de morango um sorriso no rosto manchado de lágrimas.

O gato não voltou por três dias, mas, quando voltou, encontrou três vasilhas com leite no lugar habitual.

Pertenciam cada qual apenas a si mesmos, por isso tinham de cuidar uns dos outros em todos os dias em que o sol nascia. E em troca, poderiam oferecer para sempre a sua presença.

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Ai, que obsessão maluca.

Um comentário:

Carola Vaz disse...

(cada vez mais burocrático para comentar...)

aiaiai, yuyuyuri!




e de que cor é o gato?

(estou supondo q vc nao vai precisar de legenda para entender)

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