Leialti minimalista.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Bateria inteligente (?)

Conduzíamos a pesquisa de piloto automático para automóveis. Junto de nós havia uma grande autoridade, um alemão, Schneider, já esteve aqui algumas vezes, não sei se lembra dele, ele é enorme, era sua primeira vez no Brasil, ele havia achado a comida deliciosa e comia como se o mundo fosse acabar a qualquer momento... enfim, a pesquisa estava gerando ótimos resultados e a previsão para o lançamento dos primeiros modelos era para breve, o slogan era: bateria inteligente, você só vai parar no sinal vermelho, rã, não fazíamos idéia do quanto isso era verdade. A trajetória era programada em um sistema simples de GPS e a bateria era conectada por wireless ao sistema de semáforos, naquela época, muitas cidades ainda não tinham uma cobertura de wireless gratuita, talvez alguns nem tivesse cobertura, para dizer a verdade. Estávamos em fase de teste e estávamos ansiosos, foi em um desses dias que ficamos trabalhando até mais tarde, todos foram embora e só nós ficamos por lá. Eu e Célia entramos no carro, havia um semáforo nas dependências da fábrica, Schneider iria operá-lo. Com o sinal verde demos duas voltas na fábrica, tudo como o esperado, então Schneider trocou para o sinal vermelho, o carro parou. Ficamos extasiados, talvez conseguíssemos lançar o produto antes do previsto. O sinal vermelho e o carro parado. Por algum motivo o sinal permaneceu vermelho, não sabíamos o porque, tentamos nos comunicar com o Schneider e não conseguimos, ele não atendia o celular. Foi então que nos deparamos com uma das falhas mais óbvias, tentamos abrir a porta e não conseguimos, já que havíamos colocado uma trava de segurança que impedia qualquer porta de ser aberta enquanto o veículo estivesse ligado, teríamos desligado o veículo, se, à essa altura, já não nos tivesse ocorrido que também havíamos colocado uma trava na ignição; imagine só se alguém resolvesse desligar o carro enquanto ele estava em movimento, seria um acidente potencial, e mesmo que o carro estivesse parado em um sinal vermelho, como era o caso, atrapalharia o trânsito se o motorista resolvesse parar por ali mesmo. Não havia mais ninguém com quem pudéssemos falar, o vigia estava dormindo fatalmente, imaginos nós, já que não conseguimos nos comunicar com ele também. Devo dizer, entretanto, que, não fosse o incidente do carro, eu provavelmente nunca teria me envolvido com a sua mãe. Só fomos liberados pela manhã, quando o vigia trocou de turno, depois nos ver e de falar conosco entrou na fábrica e voltou depois de algum tempo com Schneider, que havia passado mal de dor de barriga e acabou dormindo no banheiro. Na época, parecia bastante ridículo que as causas de nossa relação fossem uma dor de barriga e um projeto de slogan fatídico e igualmente ridículo, mas, sinceramente, não creio que algo justifique melhor a ridicularidade que o amor.

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Tirando as teias de aranha.
Esse slogan é real, vi na traseira de um ônibus.

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