Leialti minimalista.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Percepção

Me sentindo inquieto, saí para andar e pude ver que no mundo existem vários formatos e me senti pequeno. Pude ver que cada árvore tinha um complexo de formas e ângulos muito grande, provavelmente muito maior dos que eu próprio ou qualquer outra pessoa tem, superficialmente, é claro, e me senti pequeno novamente. Pude ver também que todas as árvores eram diferentes entre si, mesmo as que eram parecidas poderiam possuir uma infinidade de formas diferentes. Possuiam várias texturas. E assim era com tudo mais que me cercava. Mesmo as coisas que homem produz em série, para que fiquem todas iguais, mesmo elas, em alguma minúscula ordem de medida imperceptível para nós também são diferentes. Todas as garrafas de coca-cola são diferentes. Todas as cocas dentros das garrafas têm um gosto diferente. E percebi também que pode-se encontrar poesia em tudo, porque, embora as crianças entrem de férias todos os anos, há sempre crianças que estão entrando de férias pela primeira vez, e, além disso, a cada ano que se entra de férias há uma ansiedade, um aperto, uma libertação diferente. Percebi também que as opções são muitas, muito mais do que poderíamos contar, que eu tinha muitas ruas para seguir, carros aos quais pedir carona, ônibus para pegar, árvores nas quais subir. Percebi que pode-se ir a muito mais lugares do que eu tinha consciência, não estou falando de visitar vários países, estou falando de sentar-me em todos os galhos de uma árvore e saber formas confortáveis de distribuir meu peso para que eu soubesse como fazer cada galho do mundo ser confortável, aposto que um gato saberia. Percebi que mesmo as pessoas que parecem tão zumbificadas se diferenciam nesse aspecto, que cada uma pisa distribuindo o peso numa proporção diferente, que cada uma se apoia no mundo de um jeito diferente e então imaginei que, se pudessem ser olhadas de perto e sem censura, elas poderiam ter ambições diferentes, pessoais, sinceras. Percebi que as opções são infinitas e que eu nunca vou poder experimentar e nem sequer imaginar todas. Para todas as coisas banais se faz uma escolha. Para saber as horas eu poderia olhá-las no meu próprio relógio, se eu tivesse um, poderia olhar no meu celular, poderia perguntar a alguém, poderia olhar no relógio de alguém, poderia roubar o relógio de alguém, poderia espancar alguém até a morte e pegar o seu relógio depois, poderia observar a sombra de uma placa por alguns minutos para saber para onde está se dirigindo o sol e, então, deduzir as horas. Percebi o quanto nunca vou experimentar do mundo. Percebi que eu poderia escrever sobre qualquer coisa, e percebi que o que quer que escrevesse seria algo pequeno, independente de qualquer opinião ou crítica que recebesse. Percebi o quanto de opções nunca vou tomar e me senti pequeno e, de alguma forma, me senti grande. Imenso. Infinito.

Um comentário:

Carola Vaz disse...

e agora pense em todos os outros universos paralelos, inclusive naqueles em que vc é arvore....

Sitemeter