Leialti minimalista.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Perspectiva.

Quando chove, as pessoas se escondem. Elas têm papéis importantes, coloridos, numerados, preenchidos por letras, papeis que não podem molhar. Mesmo quando essas pessoas não estão carregando esses papéis, elas se escondem, elas se acostumaram a esconder-se da chuva, elas têm mil motivos.

- Não! A gente vai ficar doente!
- Deixa de ser boba, parece coisa de avó. Vem, a piscina tá gostosa.
- Não!
- Ai, você está muito chata!
- Chata? Eu estou chata por que não quero nadar com você na chuva?
- É, porque não entra debaixo da chuva, não sai no frio da madrugada, não come doce com as mãos, não pode fazer nada, porque tudo deixa doente ou dá trabalho ou qualquer desculpa.
- ...
- Tem sido um saco, sabia? Eu gostava mais quando você apenas não se importava com esse tipo de coisa.
- Mas é verdade, você sabe que eu não posso ficar doente, eu tenho que traba(Ah, não me venha com esse papo de trabalho, que droga! para que você trabalha, se não pode viver?)... Desculp(Desculpar o quê? Peça desculpa para você mesma)...

E contemplativos permaneceram, ele na piscina e ela de dentro de casa. Então sorriu, tirou sua roupa, se despiu do adulto responsável que havia resolvido representar, e entrou na água preocupando-se apenas com questões como quem consegue dar mais voltas na piscina, sem sair debaixo da água.

No outro dia acordou espirrando. Poderia até ter ficado nervosa e gritar com ele, mas ele lhe fez chá quente para tomar no café da manhã. O chá não ia realmente fazer com que ela melhorasse, mas ele poderia ser servido por mil outros motivos e vários deles valeriam o seu silêncio e alguns até o seu sorriso.

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