Leialti minimalista.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Registro.

Hoje fui ao Maleta rabiscar gente.
Saldo: R$100,50 e uma dose de Providência.

Rabisco sim e tô vivendo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Impressões sobre a poesia

A tempo, não me confundam, quando digo que a poesia pode ser encontrada em todos os aspectos da vida, não estou adotando carpe diem ou vendo o mundo por um prisma super otimista. Ver a poesia do mundo é como trepar com um estranho, você toca, sente, observa, goza e depois morre. Tem gente que chama esses alguns que se acham espertos de babacas. Minhas primeiras impressões sobre a poesia e tudo o mais que se há para ver é que tudo é tão e quão babaca quanto se pode ser num mundo em que se goza para depois morrer.

Rabiscando gente.

Não sei desenhar, faço uns rabiscos horrorosos, mas recentemente descobri que posso desenhar gente em botecos e ganhar dinheiro para pagar minhas contas. Desde então tenho bebido de graça, sempre peço minha dose de providência, o garçom me olha com uma cara estranhíssima e me cobra mais do que gastei, provavelmente achando que estou bêbado, que sou novo e não sei beber, não ligo, porque não sai do meu bolso, rabisco alguém, rabisco vida, rabisco dinheiro, porque é isso que me dão, quando presenteio meus modelos, vítimas ou como quiserem chamar, com os rabiscos. Parece um pouco medíocre, sair para beber cachaça e depender de estranhos para pagarem minha conta. Uma vez me perguntaram porque esse é o nome do meu blog, rabiscando vida, porque rabisco pressupõe um certo desleixo. E tem gente que chama desleixo de despojo para parecer melhor. Ora, não procuro não chamar meus rabiscos de nada mais, são rabiscos e são o que faço. Mas tô vivendo.

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Eis um texto explicitamente autobiográfico.

Pseudestesia.

Se inefável foi criada para dizer-se daquilo que não pode ser dito em palavras,
Defenestrado certamente para que o Veríssimo escrevesse a crônica de sucesso,
Pseudestesia, não resta dúvida, foi para ser dito naquele momento em que você viaja legal e alguém aleatório comenta que você estava viajando, de preferência o professor, quando você dá aquela cochilada "não, não, foi só uma pseudestesia", está claro que a pessoa não vai mais fazer perguntas, no máximo soltar um "ah!" pseudo compreensivo, balançar a cabeça afirmativamente e proceder a vida como se tivesse passado por um simples piparote.

sábado, 13 de dezembro de 2008

EU PIRO!

Num muro de concreto
Um manifesto:
SE EU NÃO PINTAR EU PIRO

Na cidade
Vários manifestos
Um coro de desprezo
Um sorriso de canto de boca, da minha
Um coração que bate mais rápido

Olho para massa de corpos semi-vivos rastejantes inertes e penso: alguém vive. Ando mais alguma ruas e uma coluna cinzenta de passarela me diz para olhar para trás, quando estiver alguns metros adiante. Olho para trás e não vejo colunas, vejo canteiros de flores erguendo uma passarela. Ora, alguém vive.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Percepção

Me sentindo inquieto, saí para andar e pude ver que no mundo existem vários formatos e me senti pequeno. Pude ver que cada árvore tinha um complexo de formas e ângulos muito grande, provavelmente muito maior dos que eu próprio ou qualquer outra pessoa tem, superficialmente, é claro, e me senti pequeno novamente. Pude ver também que todas as árvores eram diferentes entre si, mesmo as que eram parecidas poderiam possuir uma infinidade de formas diferentes. Possuiam várias texturas. E assim era com tudo mais que me cercava. Mesmo as coisas que homem produz em série, para que fiquem todas iguais, mesmo elas, em alguma minúscula ordem de medida imperceptível para nós também são diferentes. Todas as garrafas de coca-cola são diferentes. Todas as cocas dentros das garrafas têm um gosto diferente. E percebi também que pode-se encontrar poesia em tudo, porque, embora as crianças entrem de férias todos os anos, há sempre crianças que estão entrando de férias pela primeira vez, e, além disso, a cada ano que se entra de férias há uma ansiedade, um aperto, uma libertação diferente. Percebi também que as opções são muitas, muito mais do que poderíamos contar, que eu tinha muitas ruas para seguir, carros aos quais pedir carona, ônibus para pegar, árvores nas quais subir. Percebi que pode-se ir a muito mais lugares do que eu tinha consciência, não estou falando de visitar vários países, estou falando de sentar-me em todos os galhos de uma árvore e saber formas confortáveis de distribuir meu peso para que eu soubesse como fazer cada galho do mundo ser confortável, aposto que um gato saberia. Percebi que mesmo as pessoas que parecem tão zumbificadas se diferenciam nesse aspecto, que cada uma pisa distribuindo o peso numa proporção diferente, que cada uma se apoia no mundo de um jeito diferente e então imaginei que, se pudessem ser olhadas de perto e sem censura, elas poderiam ter ambições diferentes, pessoais, sinceras. Percebi que as opções são infinitas e que eu nunca vou poder experimentar e nem sequer imaginar todas. Para todas as coisas banais se faz uma escolha. Para saber as horas eu poderia olhá-las no meu próprio relógio, se eu tivesse um, poderia olhar no meu celular, poderia perguntar a alguém, poderia olhar no relógio de alguém, poderia roubar o relógio de alguém, poderia espancar alguém até a morte e pegar o seu relógio depois, poderia observar a sombra de uma placa por alguns minutos para saber para onde está se dirigindo o sol e, então, deduzir as horas. Percebi o quanto nunca vou experimentar do mundo. Percebi que eu poderia escrever sobre qualquer coisa, e percebi que o que quer que escrevesse seria algo pequeno, independente de qualquer opinião ou crítica que recebesse. Percebi o quanto de opções nunca vou tomar e me senti pequeno e, de alguma forma, me senti grande. Imenso. Infinito.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Bateria inteligente (?)

Conduzíamos a pesquisa de piloto automático para automóveis. Junto de nós havia uma grande autoridade, um alemão, Schneider, já esteve aqui algumas vezes, não sei se lembra dele, ele é enorme, era sua primeira vez no Brasil, ele havia achado a comida deliciosa e comia como se o mundo fosse acabar a qualquer momento... enfim, a pesquisa estava gerando ótimos resultados e a previsão para o lançamento dos primeiros modelos era para breve, o slogan era: bateria inteligente, você só vai parar no sinal vermelho, rã, não fazíamos idéia do quanto isso era verdade. A trajetória era programada em um sistema simples de GPS e a bateria era conectada por wireless ao sistema de semáforos, naquela época, muitas cidades ainda não tinham uma cobertura de wireless gratuita, talvez alguns nem tivesse cobertura, para dizer a verdade. Estávamos em fase de teste e estávamos ansiosos, foi em um desses dias que ficamos trabalhando até mais tarde, todos foram embora e só nós ficamos por lá. Eu e Célia entramos no carro, havia um semáforo nas dependências da fábrica, Schneider iria operá-lo. Com o sinal verde demos duas voltas na fábrica, tudo como o esperado, então Schneider trocou para o sinal vermelho, o carro parou. Ficamos extasiados, talvez conseguíssemos lançar o produto antes do previsto. O sinal vermelho e o carro parado. Por algum motivo o sinal permaneceu vermelho, não sabíamos o porque, tentamos nos comunicar com o Schneider e não conseguimos, ele não atendia o celular. Foi então que nos deparamos com uma das falhas mais óbvias, tentamos abrir a porta e não conseguimos, já que havíamos colocado uma trava de segurança que impedia qualquer porta de ser aberta enquanto o veículo estivesse ligado, teríamos desligado o veículo, se, à essa altura, já não nos tivesse ocorrido que também havíamos colocado uma trava na ignição; imagine só se alguém resolvesse desligar o carro enquanto ele estava em movimento, seria um acidente potencial, e mesmo que o carro estivesse parado em um sinal vermelho, como era o caso, atrapalharia o trânsito se o motorista resolvesse parar por ali mesmo. Não havia mais ninguém com quem pudéssemos falar, o vigia estava dormindo fatalmente, imaginos nós, já que não conseguimos nos comunicar com ele também. Devo dizer, entretanto, que, não fosse o incidente do carro, eu provavelmente nunca teria me envolvido com a sua mãe. Só fomos liberados pela manhã, quando o vigia trocou de turno, depois nos ver e de falar conosco entrou na fábrica e voltou depois de algum tempo com Schneider, que havia passado mal de dor de barriga e acabou dormindo no banheiro. Na época, parecia bastante ridículo que as causas de nossa relação fossem uma dor de barriga e um projeto de slogan fatídico e igualmente ridículo, mas, sinceramente, não creio que algo justifique melhor a ridicularidade que o amor.

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Tirando as teias de aranha.
Esse slogan é real, vi na traseira de um ônibus.

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