Leialti minimalista.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O titulador.

Tamanha é a satisfação quando se vê um bom título que é quase impossível deixar de pensar que aquilo que recebe o título só pode ser tão bom quanto. O efeito funciona da mesma maneira para títulos ruins, entretanto, os títulos ruins abundam, eles habitam principalmente os filmes da Sessão da Tarde e os do Cinema em Casa, porque aparentemente tradutores se divertem traduzindo títulos que poderiam passar desapercebidos ou até mesmo títulos potencialmente bons de forma que eles fiquem repugnantes, eles também parecem ter a capacidade de usar o mesmo título ruim para vários filmes, modificando a ordem ou o formato das palavras, coisas como O Verdadeiro Amor, O Amor Verdadeiro, O Amor de Verdade e por aí se estendem uma lista infindável de títulos nada convidativos. E é por esse motivo que deveria haver uma pessoa cuja profissão fosse titular, dar título aos filmes, livros, personagens...

Entretanto, tamanha é a decepção quando se vê um bom título desperdiçado em algo que não é tão bom quanto que seria necessário um titulador e um aprovador de títulos, este segundo analisaria a obra que receberia o título e julgaria se ela está apta a recebê-lo. Se esses dois personagens que eu elaborei existissem, o desenho que acompanha A Mansão Foster para Amigos Imaginários com certeza não teria esse nome, que oferece muito mais do que o desenho realmente tem a mostrar. Por outro lado, não seria permitido jamais traduzir Shaun of the Dead para Todo Mundo Quase Morto, um filme tão bom não poderia ser comparado com aquela série terrível de besteiróis estadunidenses, principalmente porque eles não são parecidos, em absoluto.

E imagine só a extensão desses ramos, essas pessoas poderiam trabalhar em cartórios, e, assim, acabariam com os nomes terríveis que colocam nos filhos, coisas como Maricleisson, Eldermiro, enfim... se existisse um titulador, ele poderia até dar um bom título a esse texto. Não que ele fosse passar na aprovação do aprovador de títulos.


A minha lista de bons títulos (para filmes) inclui:
Antes do Amanhecer (Before Sunrise)
Antes do Entardecer (Before Sunset)
Sympathy for Mr/Lady Vengeance
Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera
La Cité dus Enfants Perdus
Dirty Pretty Things
Túmulo dos Vagalumes
Desventuras em Série (A Series of Unfortunate Events)
I'm a Cyborg, But That's Ok
Requiem for a Dream
Sukiyaki Western Django
Thank You For Smoking
V for Vendetta
A Liberdade é Azul
A Igualdade é Branca
A Fraternidade é Vermelha

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A ausência de vazio.

As pessoas que se matam são chamadas de fracas. Diz-se delas que não foram capazes de enfrentar a vida. Mas, se essas pessoas não acreditavam em vida após a morte, se elas acreditavam que seriam engolidas pelo vazio absoluto ou ainda pior, por uma ausência de vazio, um algo que não pode ser representado, porque, se eu deixasse apenas o espaço vazio, ainda haveria ali o espaço vazio. Se essas pessoas se entregaram a isso, ainda assim poderiam ser chamadas de fracas?



Now a major novel in development in this author's mind, near you. Or not.

Sorvete e chá II (desenvolvido).

Atravessamos, eu e ela, a linha que marca os limites entre o escandâlo e a sutileza. É como se tivéssemos percorrido um círculo passando do escândalo para o sutil e finalmente voltado ao ponto inicial que se torna algo inteiramente novo. Acontece que agora não sei mais como prosseguir e eventos inesperados estão acontecendo. Eventos inesperado inteiramente novos, como o grito que ela gritou comigo.

Em algumas culturas, tomar chá é praticamente uma doutrina, uma arte, algo a que as pessoas se dedicam. Para nós, a cerimônia do chá é algo tão sutil que é difícil compreender porque alguém passaria horas apenas bebendo chá, mas para essas pessoas, cada chá tem uma textura e um sabor diferente, eles não parecem água fervendo, se não houver toneladas de áçucar dissolvido. Estávamos então mergulhados no mais sutil dos chás, naquele que é necessário o maior grau de apreciação para desfrutar do sabor, foi então que ela gritou, as ondas sonoras se propagaram naquele oceano de sutileza fazendo-o vibrar, foi assim que eu me senti.

A questão é, eu nunca imaginei que ela fosse gritar comigo, fosse pelo motivo que fosse. Eu imaginei que viveríamos de chá, de sorvete e que não gritaríamos um com o outro. Quando nos conhecemos iniciamos a nossa própria cerimônia, a cerimônia do sorvete, tomamos chá e não gritamos um com o outro. No íntimo da minha ingenuidade, aquilo pareceu ótimo e eu tive a impressão de que a vida seria muito fácil se púdessemos prosseguir daquela maneira para sempre e, é claro, em alguma outra dimensão de possivéis ações e desenvolvimentos, nós vivemos ainda de chá, sorvete e ela nunca gritou comigo, nem gritará, em absoluto. Mas nesta dimensão, e é nesta que se encontra esta minha consciência, ela gritou comigo.

Por quê? Se percorremos todo a parte escandâlo do círculo e ela nunca gritou, por que gritou agora que já conhecemos o sutil?

A nossa cerimônia do sorvete consiste em tomar sorvete e sujar as imediações do rosto do outro com o sorvete. Fizemos isto quando nos conhecemos e pareceu uma boa idéia fazer em todos os dias que se seguiram e para sempre. Percebemos quais eram os sabores de sorvete para se tomar durante momentos alegres, os sabores para os momentos tristes, e surgiram até ocasiões bem específicas, como tomar sorvete céu azul em dias sem nuvens, percebemos também quais eram os efeitos que surtiam ao sujar a ponta do nariz ou a ponta das orelhas, percebemos as diferenças de textura do sorvete de creme e do sorvete de abacaxi com hortelã. Nossa cerimônia se tornou mais sutil e, também, mais mecânica, alguns sabores desapareceram e ela não toma mais alguns dos meus sabores preferidos, nem eu tomo alguns dos dela.

Nos discordamos de muitas coisas, mas brigamos cada vez menos. De alguma forma, me parece que nos desentendemos cada vez mais. A imagem que eu projetava dela se tornou cada vez mais nítida, de alguma forma, não parece mais necessário expor todas as minhas opiniões para ela, ela também tem uma imagem mais nítida de mim. Essas imagens criaram independência e agora não somos nos que as projetamos mais, são elas que vêm até nós para mostrar como são.

Em nossa cerimônia do sorvete, parece ter se desenvolvido de forma semelhante, antes desenvolvíamos nossa capacidade de estimular o outro, agora somos instrumentos para fazer uma série de movimentos mecânicos estipulados e que oferecem um resultado conhecido.

De alguma forma, não nos vemos mais um no outro. Antes, quando moldávamos as imagens, fazíamos alguns ajustes para que ficassem mais do nosso agrado, era brusco, mas parecia necessário, ainda estávamos percorrendo o escândalo, mas quando chegou o sutil, passamos apenas a aceitar as diferenças, embora doesse, parecia necessário.

Como prosseguir nessa segunda volta do círculo da sutileza escandalosa? O que fazem os praticantes da cerimônia do chá quando cada um dos sabores parece escandalosamente diferente do outro?

Quando eu projetava a imagem, era mais fácil me ver nela, afinal, eu é que a desenhava. Não posso mais deixar que essa imagem, que não é ela, nem o que projetava antes, se impor, terei de modificar essa imagem, quando ela vier se apresentar a mim, e ver como ela reage quando eu pinto nela os meus lugares preferidos de sorvete com os meus sabores preferidos de sorvete. E com outros, e com todas as combinações possíveis, até percorrer novamente o círculo e voltar ao ponto inicial, sendo ele um ponto novo, em que as imagens independentes interajam conosco, e não só se apresentem como são. E quando completarmos a segunda volta, que eu não nos acomodemos e encontremos logo um novo jeito de interagir com todas as novas informações e conhecimentos.

E nesta dimensão de ações e desenvolvimentos, voltaremos a viver de sorvete e não para o sorvete, como acontece nas dimensões em que ela nunca gritou comigo e nos nunca voltamos a caminhar no círculo. Ela não gritará mais comigo. E o chá, sempre há espaço para chá.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Você tá bem?

E no instinto mais básico de proteção daquilo que se cativa, o garoto, preocupado, naturalmente, ao perceber toda aquela seqüência de movimentos de sua amiga que só poderia significar "eu estou muito triste", se adiantou e procurou ser reconfortante e, ao mesmo tempo, não cair num lugar comum.
- Olha só, vou te dar um presente-abraço com direito a laço e tudo o mais, você puxa o laço e eu te dou todos os abraços.
- Que laço?
Enquanto tentava desastrosamente fazer um laço com a blusa amarrada na cintura o garoto insistiu.
- Vale pro resto da vida, pode até me ligar no meio da madrugada, eu vou até a sua casa, sem taxa de entrega.
E a garota obviamente percebeu a preocupação do amigo, mas não se deu ao trabalho de não cair num lugar comum.
- Não precisa se preocupar comigo.
- Eu não preciso estar preocupado para te dar um abraço...
- Não, é sério, não precisa se preocupar comigo.
- Tem certeza?
- Tenho.
Então o garoto foi embora, nunca mais telefonou ou ofereceu um abraço. Ele arrumou outra amiga com a qual podia se preocupar em tempo integral e aprender várias maneiras de se embrulhar como presente. A garota morreu de desgosto em pouco mais de uma semana e meia.

Sorvete e chá.

Mal posso acreditar. Estou completamente atordoado, ela gritou comigo, e eu não tenho resposta. Porque, em primeiro lugar, ela nunca grita. E depois, esse frio rodopiante está percorrendo partes do meu corpo em que eu não sabia que poderia sentir frio, quanto mais frio rodopiante, é uma experiência por demasiado complexa para que eu possa senti-la e, simultaneamente, responder. Responder um grito dela.

Achei que estivesse no contrato, nós viveríamos de sorvete, de chá e nunca, jamais, em quaisquer circunstâncias, gritaríamos um com o outro. Eu não li o contrato, só assinei. Mesmo que eu quisesse, aquelas letras eram pequenas demais, eu não conseguiria. Me pergunto se ela se enxerga quebrando um contrato, talvez não. Talvez ela nunca tenha pensado em um contrato.

Quando nos conhecemos não falamos de contratos, eu ri dela, estava com a cara toda suja de sorvete, eu nunca tive muitos pudores, ri dela, mesmo sem a conhecer. Ela também riu, enfiou o sorvete na minha cara, e riu novamente. Depois do choque inicial eu ri também, não estava acostumado a outras pessoas sem pudores. O chá... ah, o chá foi o que nos restou para beber depois que já estávamos com o sorvete cobrindo todo o rosto. E nesse dia nós não gritamos um com outro em nenhum momento. No dia seguinte, tomamos sorvete, chá e não gritamos. No dia seguinte também. E no próximo. Por que haveríamos de gritar um com o outro? Discordamos de muitas coisas nos dias que se seguiram, tomamos muito sorvete e não gritamos. Por que haveríamos de gritar? Brigamos, comemos sorvete, choramos, rimos sorvete, brigamos ao comer sorvete, chegamos a brigar para comer sorvete. Mas nunca gritamos. Nos conhecemos melhor, sabíamos quais eram os sabores preferidos de sorvete um do outro, nossas brigas e discordâncias se tornaram mais sutis, nos tornamos mais tolerantes um com o outro, não sujavámos mais toda a cara, talvez só a ponta do nariz, só o lábio inferior, uma lambida e estava tudo resolvido. A bagunça se tornou sutil e cheia de pudores.

Por que, então? Se a aceito e deixo que seja como é, mesmo que eu não concorde, se passei a sujá-la apenas com o seu sabor preferido de sorvete, se só a sujo onde ela acha gostoso. A sutileza se tornou escandâlo. Está claro que o sorvete de amora é bem melhor que o céu azul, embora esse tenha uma cor muito mais agradável, e o frio da ponta das orelhas é muito mais agradável, como ela pode preferir a ponta do nariz? Escandâlo. Duas bolas de sorvete, essa é a minha resposta, a partir de hoje ela vai voltar a sentir sorvete de amora na ponta das orelhas, e eu terei o céu azul na ponta do nariz, e teremos todos os outros, em todas as partes, uma de cada vez e todas as combinações de sorvete em todas as combinações de lugares, vamos observar o escândalo de cada sutileza. E ela não vai mais gritar comigo, porque vamos voltar a viver de sorvete. E de chá.


Ai, que bagunça de texto... vou deixar a lambança bagunçando tudo aí e tentar fazer virar bagunça bonitinha, depois...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Dos feridos.

A vida não pára? Pois deveria, assim pessoas cansadas, entediadas ou feridas poderiam dar pause e esperar que a vida ficasse minimamente interessante para prosseguir. Certo, talvez a vida não devesse parar, mas talvez as pessoas devessem parar de esperar tanto dos feridos. Se a vida pudesse parar, talvez eu tivesse sido um dos que escolheu esperar, mas isso não era uma opção, então o que eu fiz foi continuar prosseguindo atento para recolher todos os meus pedaços em todas as vezes que eles caíram. E no processo de reintegração dos pedaços ao eu-em-pedaços, eu os relocava, de maneira que ficassem dispostos como os de mais ninguém. Algumas pessoas chamam isso de busca pela identidade, algumas dizes que é só para chamar atenção, a verdade é que mantém as pessoas distantes de mim, é a minha melhor... única defesa. E ao passo em que afasta as pessoas que não podem parar, nem quando estão machucadas, nem mesmo para se machucar, atrai outras pessoas com os pedaços dispostos como os de mais ninguém. Eu me sinto atraído pela disposição incomum de pedaços. E essas pessoas não costumam te obrigar a seguir sempre todos os seus compromissos, elas não te cobram o ritmo do mundo, elas cuidam das suas feridas, aquelas que você carregou durante toda a vida e achou que ainda estariam doendo quando as últimas estivessem frescas, o mundo parece estar sempre pronto para te machucar, afinal. Essas pessoas nem sequer parecem pessoas, elas parecem ser algo bem melhor. Então eu fico confuso e começo a achar que isso é tudo aquilo que eu desprezo, começo a pensar que esse vínculo é um maldito compromisso, que só porque eu posso precisar dessas pessoas a qualquer momento, elas estarão disponíveis a qualquer momento, me esqueço que não posso cobrar delas o meu ritmo. Algumas pessoas dispõem os seus pedaços de forma tão bela que eu quase me esqueço o que as fez assim, belos pedaços de uma tragédia. Aqui estou eu esperando demais dos feridos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

From the Wounded.

Life doesn't stop? It should, so tired, bored or hurt people could just stop, press pause and wait for life to get at least a bit interesting to go on. Alright, maybe life shouldn't stop, but maybe people shouldn't expect too much from the wounded. If life could stop, maybe I would've been some of the people who chose to wait, but that was not an option, so what I did was to keep going on being cautios to gather my pieces in the ground all the times they fell. And in the process of reintegrating the pieces to the me-in-pieces I would reallocate them so they would be arranged like those of anyone else's. Some people call this search for the identity, some say it's just something people do to get attetion, truth is this keeps people distant from me, it's my best... only defense. And as it gets the people who can't stop, not even when they are hurt, not even to get hurt, far away from me it also attracts other people with the pieces arranged like anyone else's. I feel attracted by the unusual arrangement of pieces. And this people most likely won't obligate you to never abide to your appointments, they won't have you running in the rythm of the world, they treat your wounds, those which you beared for all your life and thought would still be aching when the last ones would be fresh, for it seems the world is always ready to hurt you. These persons doesn't even seem to be persons, they seem to be something entirely better. So I get confused and I come to think that this is all that which I despite, I start to think that this bound we share is some kind of freaking appointment, that only because I may need these people anytime, they will be available at anytime, I forget that they don't run in my rythm. Some people arrange their pieces in such a beautiful way that I almost forget what made them like that, beautiful pieces of a tragedy. Here I am expecting just too much from the wounded.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Fizeram com as unhas.

- Nossa, tô me sentindo até meio mal agora por só ter pensado isso depois de ver as suas unhas.
- Tá tudo bem.
- Mas eu nunca tinha visto nenhum homem hétero com esmalte vermelho, não.
- Não é vermelho, é Gabriela! nessa aqui ó - disse o garoto ao passo em que estendia a mão esquerda - é Deixa Beijar. Hahaha, vou usar sempre, agora, só pra falar o nome.
- Como é o dessa aí?
- Deixa Beijar.
- Hahaha, eu tenho um Volúpia, Atração Fatal...
Isso foi o ínicio de tudo, o dia da recepção dos calouros na universidade. Alguns copos de vinho baratézimo depois e a garota estava chorando pelos cantos e se comportando como uma bêbada estereotipada. Algumas semanas mais tarde haveria um feriado na sexta, no dia anterior eles almoçaram juntos.
- Ai, não queria que tivesse feriado amanhã. - Disse a garota
- Hm, por quê?
- Porque todo mundo da moradia vai viajar e eu vou ficar sozinha lá.
- Dá uma festa!
- Pra quem?
- Pra mim, ué.
- Haha, quer fazer as unhas?
- Pode ser.
Eles fizeram as unhas. Foi assim que o garoto conseguiu aquelas cicatrizes nas costas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Did you forget to take your meds? (Placebo)

Eles entenderam tudo errado. Não foi para que sentissem pena de mim por ter tentando me matar, mas por ter tentado viver, se eu quisesse me matar de verdade, não teria apenas trancado a porta, se eu quisesse me matar de verdade, eu teria deixado a porta aberta, teria deixado a janela aberta e teria me atirado por ela, e não tomado um monte de remédios para dormir, para dor de cabeça, para mal estar. Se tomei um monte de remédios para dormir, é porque tenho insônia, se tomei remédios para dor de cabeça, é porque minha cabeça dói e se tomei remédios para mal-estar, é porque não me sinto bem. Por que os remédios não resolveram os meus problemas?

Agora todos me dizem "olha, a gente tá aqui, viu? Se precisar de qualquer coisa, a gente tá aqui. A gente gosta muito de você, continua sendo essa pessoa especial que você é", essa última parte eu já havia escutado antes, mas o que a antecedia era um "feliz aniversário", todos ficam repetindo isso. Minha cabeça começa a doer novamente. As pessoas me dizem isso em todos os lugares que vou, a família diz, as pessoas na faculdade, e eu nem conheço a maior parte delas, mas elas também me diziam para ter um feliz aniversário. Eu me sinto mal novamente. Volto para casa e não consigo me lembrar o que no dia valeu a pena. E embora ficar acordado não valha a pena, não consigo dormir. Acho que preciso dos meus remédios novamente, talvez eu melhore dessa vez. Talvez alguém devesse mentir pra mim, me dar balinhas e dizer que eram os remédios, efeito placebo, o problema estaria resolvido.

International Unity of Measurement

Important message: time will be the unity of measurement of everything in the tridimensional existence, we perceived that not only wine, but everything can be valorized over time. It won't be a hard adaptation, many things are being non-officialy measured by time for quite some time, maturity and skillfulness are just a few of them. From now on, artwork and argument won't need to be put on discussion anymore, analyzing the time of practice and lifetime, respectively, of their authors shall be enough to know which is best. Be aware of any impostors that might plead they put all their soul into any doing, if it doesn't have time, it's not valid.

Art for art's sake.

"Can you take this..."
"Good night, mister" interrupted the doorman in an extremely unpleasant tone. Odds are that the habit of greeting everyone with a good morning, day or night got out of use when a man perceived he would have one of his arms much more stronger than the other, if he had to take out his hat for every single woman that passed by, unless he switched between arms. It is also a fact that the job of a doorman is ungrateful, lots of time for little money, so it's acceptable to the doorman to be upset.
"Uh, good night, I wanted to send these up to the 1922"*
"Why?"
"Excuse me?"
"Why do you want to send the cushions?"
"I can't understand what you mean..."
"Mister, if you want to send the cushions, you must have a purpose"
"Purpose? They are just cushions, they're going to be there..."
"No way, mister, they can't just be there. Lemme see these cushions, mister" and so the stripped cushions were handed to the doorman, black and white and black and white. The doorman looked at them carefully. "What do the stripes mean, mister?"
"Nothing, for Christ's sake, they are just cushions!"
Improvisating didn't occur to the man, it wouldn't be hard to do it. He could always say the cushions would oppose the harsness of the office desk chair, an antithesis, he could say the contrasting stripes represent the eternal duality of man, he could just say they would match the walls, after all they were black and white, and people are always saying black and white match all the other colors.
"Mister, I'm going to repeat this only once, the cushions go up only with a purpose."
"What the fuck! You must be kidding me... How do I speak with your boss?"
"These are orders from the tenant, mister, If I send them up and the tenant complain with the boss, I can even lose my job."
"From the tena... no shit, let me speak with Conrad!**"
"Can I know your reasons, mister?"
"I've already said, holy fuck, let me speak with Conrad, quick!"
And then a man appears at the entrance hall.
"Hi there, Gautier, fancy that, wait just a minute... and the cushions, did you brought them?"
"Well I brought, but this lunatic doorm..."
"Kafka, have any papers arrived?"
"No, mister Conrad, but this sir here wanted to send to your apartment some cushions, but I didn't allow it"
"It's ok, Kafka, the cushions are going to match the walls and the papers are from the Deny the Art for Art's Sake, no metric, free verses, everything in the expected."
"Alright then, mister Conrad"
"So, Gautier, do you want to go up for a cup of coffee?"
"I would certainly like that"
"Good... and what would be the purpose of this cup of coffee?"
"Excuse me?"

Frozen happiness(?)

To think that someday we criticized people who tattooed the name of their boyfriends and girlfriends in their legs, arms and breasts. It sounded so ridiculous to make a laser surgery to erase the letters burning in the skin. I wish all those photographies albuns would burn, all those photographies in which I don't seem to be so lonely. Don't misunderstand me, darling, I would give all this insignificant thing we call existence, all the space-time to live every single one of those moments only once, so I wouldn't turn your smile into those tears that fall from my face messing your make-up. I would give everything to live every moment only once, so your smile wouldn't ever seem to be from mocking me. And this pain, my love, I don't throw away because I'm afraid of only having this lonely me, I'm afraid of never holding you again and it doesn't seem to be another way.

Guerra de susto

- Que que a gente vai fazer?
- Brincar de guerra de susto.
- Como é?
- ...
- ... Alô?
- ...
- ...
- BU!
- AH!
- Tô ganhando!

Domingo, 23h20, o tédio reina soberano.

Sr. e sra. Sarcasmo

- A Carolina dormiu aí?
- Dormiu sim.
- Quem é Carolina?
- É a namorada dele.
- Já foi embora?
- Já...
- E o esmalte vermelho que você estava ontem?
Nesse momento o garoto cogita a mera chance de explicar que aquilo não era vermelho, era gabriela, o que é um ótimo motivo para toda e qualquer pessoa usar esmalte, mas com todo o convívio que ele já havia experimentado com a família, não valeria a pena. Ele apenas mostra as unhas que são acompanhadas de um "já tirei". Como não podia deixar de ser, aquela tia que fala mais alto do que qualquer tia, mesmo quando todas estão falando ao mesmo tempo, se pronuncia.
- Olha, eu não quis falar ontem, não, mas esmalte, e ainda mais vermelho, é coisa de viado!
O garoto se encontra agora em um momento em que é impossível se fazer ouvir. Ele poderia dar motivos mil para estar com as unhas pintadas, embora nenhum fosse melhor do que estar com as unhas pintadas de gabriela. Entretanto, ele sabe que nada que ele dissesse faria surtir algum efeito. A família, que aliás nem era dele, à princípio, já está por demais entretida com o tópico homossexuliadade, ou melhor, como é decepcionante ter um filho homossexual. Todos eles sabem que é muito decepcionante, embora nenhum deles tenha de fato um filho homossexual, não que eles saibam, pelo menos. O garoto decide que é um bom momento para ir embora quando eles estão dizendo com convicção que é muito mais decepcionante ter um filho drogado.
Enquanto as vozes se distanciam, o garoto faz as contas de quantos primos nunca lhe ofereceram drogas. Fossem quantos fossem, era um número muito menor do que o de primos homossexuais. Ah, se ao menos a família soubesse (e de fato sabia) seria uma decepção. O que é que eles estavam discutindo mais cedo, mesmo? Ah, sim! Sobre a mudança do sobrenome para conseguir cidadania estrangeira... talvez ele devesse mudar para sarcasmo.

Arte pela arte.

- Manda essas...
- Boa noite, senhor. - interrompeu o porteiro com um ar extremamente desagradável. A verdade é que o hábito de cumprimentar as pessoas com um bom dia, tarde ou noite se perdeu desde que o homem percebeu que se tivesse que retirar o chapéu para cada mulher que passasse, ele teria um braço muito mais forte que o outro, a menos que revezasse. Também é um fato que ser porteiro é um trabalho ingrato, longo e mal pago, não era de se esperar que ele fosse gentil.
- Ã, boa noite, eu queria mandar essas almofadas pro 1922.
- Por quê?
- Oi?
- Por que você quer mandar as almofadas?
- Eu não tô entendendo...
- Senhor, se você vai mandar as almofadas você precisa de um propósito.
- Propósito? Ué, são almofadas, elas vão ficar lá...
- Nada disso, senhor, não podem só estar lá. Deixa eu ver essas almofadas aí, senhor. - E então foram entregues as almofadas listradas, branco e preto e branco e preto. O porteiro as observou com algum cuidado. - O que significam as listras, senhor?
- Não significam nada, pelo amor de Deus, são só almofadas!
Não ocorreu em nenhum momento ao homem improvisar, não seria difícil. Ele poderia dizer, por exemplo, que as almofadas eram o contrapeso da cadeira dura do escritório, uma antítese, poderia dizer que as listras contrastantes representavam a eterna dualidade do homem, ele poderia dizer que elas iam combinar com as paredes, eram pretas e brancas, afinal, dizem que preto e branco combinam com todas as cores.
- Senhor, eu vou repetir mais uma vez, as almofadas só sobem se tiverem um propósito.
- Porra, cê só pode tá brincando comigo... como é que eu falo com o seu patrão?
- As ordens são do inquilino, senhor, se eu mandar e ele reclamar com o patrão posso até perder o emprego.
- Do inqu... puta que pariu, chama o Quintana aí.
- Posso saber o motivo?
- Já falei, porra, chama logo o Quintana!
Eis que nesse momento entra um homem na recepção do prédio.
- Opa, Olavo, que coincidência, só resolver uma coisa aqui... e as almofadas, trouxe?
- Trazer eu trouxe, mas esse porteiro malu...
- Seu Andrade, chegaram aí uns papéis pra mim?
- Não, senhor Quintana, chegou papel nenhum aqui não, mais esse senhor aí trouxe umas almofadas que eu não deixei subir não.
- Pode liberar, seu Andrade, as almofadas vão combinar com a parede e os papéis são do abaixo a arte pela arte, tudo fora de métrica, os versos não são rimados, tudo dentro dos conformes.
- Tá certo, seu Quintana.
- Então, Olavo, quer tomar um café?
- Hum, vou aceitar sim, Quintana
- Tá certo... e qual é o propósito desse café?
- Oi?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Da honra.

Para a maior parte das pessoas isso pareceria insensato ou mesmo insano, mas para um dançarino que torce o pé durante um espetáculo, dançar até o fim, executando todos os movimentos com maestria e dissimulando a dor num sorriso, se assim for necessário, mesmo com o peso da contra-indicação de todos os seus companheiros dançarinos e do seu próprio instrutor, é apenas uma questão de honra.

Talvez esse texto se desnvolva mais.
Talvez ele fique melhor assim.

A propósito, este é o meu lado romântico, uma espécie de conduta samuraica aplicada à vida ocidental. Eu suspeito que ela não exista fora da minha cabeça.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Engano #54

Este conto, como a vida, começa no amor e termina na morte. O sarcófago é um bar temático, iluminado por velas e lustres decadentes, decorado por manequins monstruosos e os drinques parecem escuridão líquida, eles também têm gosto de escuridão, enfim, um lugar ideal para se pensar em algo sombrio.
- Vou juntar um dinheiro e viajar por aí, queria ir pra Europa, mas não sei, é muito caro. Depois, quando o dinheiro acabar, vou me matar. - Carolina é uma adolescente sentimental, vinda de uma família problemática, o tipo de pessoa que sofre por todas as gaivotas que tiveram a infelicidade de conhecer o petróleo - condições ideias para se ter idéias sombrias.
- ... - Yuri é um garoto não muito diferente de Carolina, gostaria de apreciar todas as coisas na vida que são feitas com paixão, mas por outro lado, não tem muitos amigos e está por demais apavorado para dizer alguma coisa. Mas consegue erguer as sobrancelhas.
- Que foi?
- Mas cê não precisa se matar, precisa? Quero dizer, cê pode arranjar alguma forma de conseguir dinheiro enquanto viaja, é só aprender algo, malabarismo, sei lá...
- É, talvez...
Talvez não é o tipo de resposta que agrada, quando a questão a morte deliberada de uma pessoa. Por isso um pouco de preocupação se ocupou da cadeira da dita Carol, quando a mesma foi embora. A preocupação não seria tão espaçosa em circunstâncias comuns, aquele tipo de conversa não era assim tão rara, mas desta vez eles estavam viajando e a garota não estaria simplesmente voltando para casa, ela estava indo para outra cidade, supostamente iria se encontrar com a família e ir para um fim de mundo onde moram as avós e o leite de vaca.
Como é a embriaguez de uma bebida que tem gosto de escuridão? Era o que Yuri estava prestes a descobrir. Quando abriu a carteira para verificar com quanto podia contribuir para a brincadeira que a mesa estava promovendo - qualquer coisa relacionada a bebidas alcóolicas e revelações da vida sexual dos participantes - a iluminação confusa do lugar fez com que um pedaço de plástico rasgado - era uma carteira velha - se parecesse com um bilhete de suicídio. Obviamente o plástico parecia apenas papel, mas na mente desesperada do garoto as linhas já eram lidas mesmo antes da constatação do engano.
Ele tinha que sair dali imediatamente, talvez pudesse encontrá-la na rodoviária. Havia uma linha turística que percorria a estrada real que levava a várias cachoeiras, se não a encontrasse pegaria este ônibus e seguiria a estrada, perguntaria pela menina de cabelo roxo pelas cidades em que passasse, não há muitas meninas de cabelo roxo em cidades do interior. Precisaria de dinheiro, sabia desenhar um pouco, muito pouco, mas talvez conseguisse alguma coisa com isso. Seguiria os rastros deixados, cidade após cidade, dormiria em bancos, se fosse preciso, tinha de encontrar a garota dos cabelos roxos e convencê-la, ele era esse tipo de pessoa. A encontraria observando uma cachoeira, não a mais bela ou a mais bonita, mas a que tivesse uma árvore especialmente charmosa bem próxima de sua queda ou uma formação de pedras em que se pode ver um cachorrinho, apenas se observadas por um ângulo muito específico por alguém de imaginação muito fértil, ela era esse tipo de pessoa.
- Não pode se matar, eu te amo!
- Então por que não me deixa ir?
Embora parecesse um franzir comum das sobrancelhas, elas diziam "porque amo mais o amor pelo amor que sinto por você". Talvez não fosse o suficiente para entender a resposta e talvez não é agradável, principalmente quando se trata da morte deliberadamente de alguém. O garoto tentou responder de outra forma, entrou na queda da cachoeira. Ele não sabia nadar.
Tocou o plástico finalmente, seus amigos já haviam decidido o drinque que iriam tomar, constatou o engano. Na cadeira ao lado, a prévia-preocupação-agora-amor-que-se-sente-pelo-amor estava ainda sentada. Mais uma vez constatou o engano. No sarcófago não havia uma queda de cachoeira onde se matar, mas, infelizmente, era um local propício para se ter idéias sombrias. Mais um engano.

Sitemeter