Leialti minimalista.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

De como se comia melhor no passado

Não importa se ingeriam índices altíssimos de gordura trans, os filhos da classe média de 80 e 90 comiam bem melhor do que se come hoje. Bastava pedir ao pai, tia ou avó uma moeda, duas, no máximo, para ir à padaria comprar um pacote de biscoito, não um desses com gosto de açúcar esfarinhado, comprava-se um Passatempo.

Comer um Passatempo não era apenas comer, era um ritual composto por várias etapas. Separava-se o recheio do biscoito metodicamente, alguns adpetos alternavam entre entre biscoito e recheio, outros juntavam todo o recheio em uma bola monstruosa. Comer uma das partes na ordem errada era suficiente para dessacralizar todo um pacote.

Com o Kinder Ovo não era diferente, em pouco mais de uma semana conseguia-se completar a coleção, com exceção de um ou dois modelos que só saiam depois que você já tinha pelo menos cinco de cada um dos outros. Hoje as crianças têm que juntar dinheiro por uma semana para comprar um Kinder Ovo.

As primas também eram bem mais acessíveis, todos os domingos a família se reunia na casa dos avós para almoçar e nos fartávamos do peito e do lombo das primas mais desenvolvidas. A marcinha era a minha preferida, no início da puberdade, e, assim como passatempo, comer a Marcinha era um ritual, tinha que fazer as coisas na ordem certa, e, enquanto tudo acontecia, um primo vigiava se tias ou avós se aproximavam. Tirar uma peça de roupa na ordem errada poderia arruinar tudo. Mas a Marcinha foi ficando desinteressante e não faz mais falta, seria como fazer o ritual do Passatempo com um desses genéricos, não faria sentido e não faz falta. Mas o Kinder Ovo, ah! O Kinder Ovo é inadmissível!

3 comentários:

Carola Vaz disse...

não gostei mesmo...

Tyfr disse...

O Kinder ovo é realmente inadmissível!
E olha que eu ganhava só um por semana do meu avô no domingo.
E tem mais, você lembra dos Tazos?



Enfim, gostei da escrita, se é que me entende, e se é que entende esse se é que me entende.

Bárbara disse...

Ahahahahha. Verdade, seus textos estão melhorando. Apesar de que eu já os achava bons antes. Mas esse daqui, ótimo.
Eu fui ficando morrendo de fome e toda saudosa da minha infância até bater o olho em "nos fartávamos do peito e do lombo das primas mais desenvolvidas". Oook. Excelente comparação, e ótimo como o narrador encara as coisas como semelhantes, deixa completamente óbvio a objetificação (eu devia dizer 'reificação' pro cursinho ter valido alguma coisa) da mulher, e a falta de interesse dele pela família. (Ou eu viajei aqui e não era a sua intenção?)

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