Leialti minimalista.

domingo, 15 de novembro de 2009

Registro do não-sentido

Hoje acordei em uma casa que não era minha, mas que poderia ser, de tão confortável, e lá ouvi que qualquer tentativa de entender a vida é fracassada por princípio e desencadeia desejos suicidas. Agora estou vendo se cresci desde a última vez que digitei umas letras por aqui, de cuecas, bebendo água tônica num copo do Bob Esponja, alternando os sons de Andrew Bird e Joanna Newsom e usando o brinco de uma garota morta, suicidada à moda de extermínio judeu nos campos de concentração, sabe-se lá se por tentar entender ou não. Entre os passos de uma casa para outra, da que acordei e da garota morta e da minha, vi vida: pessoas encontrando conhecidos em filas de supermercado e na Praça da Estação várias pessoas desconhecidas de mim e de si juntas sob a sombra de uma única árvore enquanto nas fontes crianças despudoradas corriam com pouca roupa e fotógrafos registradores mas não muito atentos deixaram escapar do registro um menino que como peixe pescado secava as costas no sol quente e a barriga no chão quente de sol uns velhos jogavam baralho sobre uma folha de papelão mendigos deitados outros sentados sorriam com bocas desdentadas e uma mulher em pé de óculos escuro e aro colorido acompanhada de um homem sentado em um hidrante e um cachorro ambos sem óculos de aro colorido e de colorida peruca um homem anunciando em um microfone uma criança encontrada num labirinto de eletrodomésticos do Ricardão e do outro lado da rua uma criança também de óculos de aro colorido também escuro atravessava acompanhada de gente grande e um homem peludo escolhendo músicas no jukebox do bar sujo onde peguei uma caneta azul emprestada para fazer o texto verde que estou maturando aqui a música começou aumente o volume tantas decepções eu já vivi pedi à moça que você me adora que me acha foda duas cervejas pretas e escolhi umas músicas enquanto esperava.

Pensei em tudo que vi e na condição humana, demasiadamente humana, de estar só tropeçando no escuro e rabiscando vida, que é melhor que sonhar. Viver é melhor que sonhar, cantou o homem do meu lado.

No caminho para casa, no metrô, uma mulher espremia cravos no nariz de um homem.

Um comentário:

Cíntia disse...

delícia de texto verde! =)

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