Leialti minimalista.

domingo, 19 de outubro de 2008

Herói

Eu não tenho o poder, ou o usaria agora... ou não sei controlá-lo, se fosse o caso, o usaria agora, para voltar até a pessoa que o tinha. Sim, o poder de voltar o tempo, assim, como em magia, como nos livros do Harry Potter que você lia aos 15 anos e achava que a vida seria muito mais fácil se pudéssemos enfiar uma dúzia de pessoas em um carro, sair voando e atropelar árvores ou se tivéssemos o relógio que dava as voltas tais que voltariam o tempo na mesma quantidade, em horas. Bem, era mais ou menos isso, tirando o fato de que o tempo não voltava de verdade, o que acontecia era algo mais como anular um instante do tempo e acontecia assim: um olhar, e não estava mais lá. Mas eu o arruinei, essa pessoa que tinha esse poder incrível de fazer desaparecer completamente todos os meus erros. Eu não pude suportar, quando todas as vezes em que eu cometia um deslize, me lançava o olhar. A princípio eu apenas me constragia e tratava de me recompor, lá se ia o meu erro para o nada, junto com ele a raiva, o ressentimento, a tristeza, iam todas se encontrar num lugar que não era. Não era um olhar de repreensão, era um olhar que apenas me indicava o erro. Era um olhar que não se fechava para nada. Em absoluto, nada. Não é que ele fosse perfeito, pelo contrário, cometia muitos erros, e eu nem sempre os tentava ou mesmo queria corrigir, fosse pelo motivo que fosse, o meu olhar era apenas o de decepção, o de reprovação, repreensão, não era do tipo que poderia consertar as coisas, apenas torná-las piores, mais visíveis, escandalosas, dramáticas, angustiantes, terríveis de suportar, causar vontade de não mais existir. E, de alguma forma, eu tive a incrível capacidade em tornar aquela capacidade dele de fazer com que um momento ruim desaparecesse completamente também se tornasse uma dessas coisas que dão vontade de não mais existir. De desistir. Quando aconteceu eu achava aquilo irritante, aquela mania de sempre me tornar melhor, o apoio firme no qual eu podia vacilar com a segurança de que nada desabaria sobre mim, mesmo que eu achasse que devia ou que eu bem merecia, mas aquela atitude irritante a qual eu não conseguia desempenhar, mas apenas o contrário, fez com que ele declinasse cada vez mais e, quando, enfim, desisti dele, ele desistiu de si. Hoje eu sei a definição daquele que nunca se faz de cego para não ver o errado, hoje eu sei que aquilo que arruinei pode-se chamar por herói e a mim a minha atitude, prefiro que chamem de covarde.

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