Leialti minimalista.

sábado, 19 de julho de 2008

Com um beijo no final.

É o tipo de coisa que se ouve em mesas de buteco, os seus amigos sempre viveram histórias mais legais que as suas, histórias que poderiam virar filmes. Mas a sua vida, bem, se fosse um filme, seria um daqueles em que você dorme e só consegue se lembrar da cena mais ridícula, alguma coisa do tipo dei-tchau-pra-pessoa-do-outro-lado-da-rua-e-trombei-com -um-poste. Mas eu finalmente vivi a minha história, a minha história que poderia ser um filme.

A maioria das pessoas não sabe, mas, se você está entrando em pânico, não pode deixar o pânico estampado no seu rosto (:D), principalmente em uma boate. As pessoas não querem conhecer pessoas em pânico, as pessoas querem conhecer pessoas dançantes e disponíveis. Mas aquela cara de pânico não era do tipo de pânico tem-um-homem-três-vezes-maior-que-eu-me -empurrando-pra-parede muito comum em boates. Era uma cara de pânico de alguém que não sabia se estaria em pé nos próximos segundos. Provavelmente eu já estaria morto, se em todas as vezes em que fiquei bêbado além do limite tolerável não houvesse alguém para me ajudar.

As luzes provavelmente me deixavam tão tonto como ela, eu não gosto de boates, eu não sei dançar e os meus amigos e a minha namorada não se importam se eu não danço: eles dançam. Eu tentei falar com a garota, falei que ia pagar a conta dela, nesse momento me esqueci que a cartela dela deveria estar completamente preenchida. A cartela dela estava completamente preenchida. Eu não tinha tanto dinheiro, para dizer a verdade, eu mal tinha dinheiro para pagar a minha cartela e voltar pra casa. Mas havia uma outra cartela de uma tal Luiza Guimarães e ela não havia bebido nada. Eu sabia que a tal Luiza iria se foder bonitamente se perdesse a sua cartela, mas se a garota estava acompanhada e a sua companhia estava muito ocupada para ajudá-la, ela merecia se foder bonitamente... aliás, qualquer um que viu a situação da garota e não foi capaz de fazer nada merecia.

A garota precisava de glicose. Eu não sei porque as pessoas precisam de glicose, quando bebem. A primeira coisa que fiz, quando escolhi o curso do vestibular, foi ignorar todos os cursos em que havia biologia. Mas eu sabia que a garota precisava de glicose. Eu não tinha dinheiro para obter uma barra de chocolate, mas isso nunca me impediu antes. No início eu apenas enfiava a barra na mochila e saia tremendo como se tivesse parkinson, mas uma vez eu fui pego, o segurança me deixou ir daquela vez, ele disse que ele só deixaria daquela vez. Eu não deixei que se repetisse, passei a fazer com que as coisas que eu roubava parecessem minhas, os seguranças só procuram por coisas roubadas. Normalmente eu comprava uma coisa em outro estabelecimento e usava a nota fiscal para sair com o mesmo produto, mas essa tática requeria um investimento financeiro que eu não podia fazer. Então nos sentamos em frente ao supermercado e esperamos. Não demorou muito, muitas pessoas precisam de glicose aos finais de semana e logo saiu um cara, eu podia ver, dentro de sua sacola, duas barras de chocolate. Ele jogou a nota fiscal no chão, assim que saiu do supermercado. Eu não gostava daqueles chocolates, mas pelo menos ele não havia jogado a nota no lixo.

A garota me abraçou e dormiu, não sei como ela conseguiu caminhar até o ponto de ônibus, era uma distância considerável para se percorrer, e ela estava dormindo. O ônibus só passou depois de três horas. Ela não se moveu sequer uma vez. Também não consigo compreender como ela se locomoveu do ponto até o ônibus, mas, de alguma forma foi feito. Posteriormente o mesmo processo ocorreu do ônibus para uma das camas vazias do meu quarto. Meus irmãos estavam viajando. A garota não disse uma palavra. Não foi ao banheiro, não escovou os dentes, não bebeu água. Ela dormiu durante 15 horas seguidas. Eu dormi durante 15 minutos, minha casa estava em obras e os pedreiros decidiram que aquele seria um ótimo dia para usar a marreta. Eu passei o dia todo observando a garota dormir, cogitei seriamente a possibilidade de me atirar ao pescoço dela, mas se nada havia acontecido até agora, muito provavelmente não aconteceria. Além do mais, ela estava naquela boate, provavelmente era lésbica.

Quando a garota finalmente acordou, não fez nenhuma pergunta. Acho que ela teria perguntado onde havia um espelho, se não houvesse um bem a vista, porque a primeira coisa que ela fez ao acordar foi se colocar em frente a ele e se maquiar. Depois ela se colocou em frente a mim e ficou na ponta dos pés. Eu fechei os olhos, alguma coisa, afinal. Quando abri os olhos a garota já havia me dado as costas e uma mancha na ponta do nariz, e, é claro, aquele impulso que se tem de levar a mão a um lugar que acabou de receber uma marca colorida de boca. Essa é a parte em que os créditos sobem.

Obs: eu dei espaço naqueles hífens, porque não cabia no blog. Ele não incentiva a minha criatividade. ¬¬

Nenhum comentário:

Sitemeter